quinta-feira, 25 de novembro de 1999

Sem tema

Aqui me proponho a escrever. Sobre quê? Sobre nada, sobre tudo, sobre a vida, sobre a morte. Suponho que não seja fácil falar sobre nada com ritmo, sobre tudo sem baralhações, sobre a vida com leveza, sobre a morte sem a ter vivido, mas só depois de tentar poderei ou não discordar. Atrás de uma palavra está sempre outra, há que não reprimir, não vergonhar o que é da alma, feio ou bonito, vencer o medo de ficar exposto, depois deixar correr um trânsito de palavras coloridas sem padrão, sem condizer, apenas dizer o que for que se diga. É como jogar um jogo de um jogador só, onde os dados são feitos de palavras, as cartas de papel, um lenço de ideias na cabeça, elas estão sempre lá e não é preciso bater à porta, basta entrar, faze-las correr, saltar, brincar, dar para receber e se faltar tema é perguntar a alguém, diz me ai um tema, sem tema.

Afinal, o que se quer da vida? Quer-se dor, quer-se uma flor, quer-se provar o sabor do prazer, sentir o cheiro a terra molhada, a água a escorrer pela pele, o Sol a enganar a vista, a conquista, a derrota, encontrar a caixinha das emoções, fugir das opções, vaguear por ai sozinho sem perder rumo antes de o encontrar, beber muito sumo de manga, ter o sorriso estampado na cara, fazer batota sempre que possível, comer rabanadas, dar muitas prendas, receber algumas, ir a uma ilha deserta, dar uma grande queca, apanhar um escaldão no pilão, esquecer a morada e escrever sobre nada. Parece que não custa assim tanto afinal, tendo em conta o que se recebe na volta.